"When critics disagree, the artist is in accord with himself"

Oscar Wilde

23.8.10

Pré-Inception

Por alguma razão a critica do Inception está a ser dolorosa de escrever e ando a protelar há um mês. Se calhar antes do texto propriamente dito, vou pedir ao Cillian Murphy para me ajudar a representar o meu sentimento geral pelo filme:



Obrigado Cillian, (continuo a gostar mais de te ver vestido de mulher).

12.7.10

Alive and kickin'

Não me vou alongar muito acerca do Alive para não ficar muito alterada, ficam no entanto estas ideias:

- A organização falhou redondamente: uma demora inaceitável para entrar no recinto no primeiro dia devido a um processo lento e mal pensado de troca dos passes de 3 dias por pulseiras que resultou na revolta dos pobres pagantes que, tendo chegado a horas, perderam vários concertos por estarem retidos na fila para entrar.  A organização espacial do festival que foi funcional em edições passadas, mas provou ser impraticável num ano de lotação esgotada. Demasiadas filas para comer, demasiada gente a circular, demasiado tempo para ir de um palco para outro. A saída do recinto após o concerto de Pearl Jam foi angustiante, com 45 mil pessoas a seguirem todas na mesma direcção, uma vez que saída do recinto, só há uma. Aqui a vossa amiga teve um divertido ataque de claustrofobia no meio da multidão e teve de se refugiar à beira de um balcão de cachorros quentes. Very nice.

- Porque andar a espreitar de um palco para outro era complicado, optei por escolher um palco e ficar por ali, e portanto perdi muitos concertos. Ou melhor, só vi mesmo aquilo que me interessava ver. Fui também forçada a tomar algumas escolhas em casos de concertos em simultâneo. Sobre os que ficaram de fora não me poderei prenunciar. Tenho pena de ter perdido Noiserv e Legendary Tiger Man e suas muchachas. Não tenho pena de ter perdido La Roux nem Biffy Clyro. Fiz até questão de estar bem longe.

- Nunca fui particularmente fã de Faith no More mas rendo-me a Mike Patton e parece-me difícil que alguém discorde de que este foi o melhor concerto do festival. Patton dá espectáculo e entrega-se, é divertido e inesperado. Muito acima das minhas expectativas e muito acima da média.

- Gossip foi uma experiência religiosa. A actuação foi no palco secundário a pedido da banda e a multidão encheu a tenda SuperBock, até haver pessoas literalmente penduradas ao tecto. Beth Ditto é toda ela amor. O final do concerto com o combo Heavy Cross + I will always love you foi de uma entrega absoluta e um dos momentos mais marcantes do festival. 

- Eu não vi nem ouvi Pearl Jam. Isto porque os fãs de Pearl Jam não me deixaram. A multidão apinhou-se para mostrar a Eddie Vedder que andou a treinar e sabe as letras todas de cor. Eu passei as quase duas horas de concerto a ouvir muita gente a cantar e a saltar à minha volta, mas Pearl Jam, não, não os vi. Os fãs incondicionais vão sempre dizer que foi espectacular e a melhor coisa desde o pão às fatias. A mim pareceu-me um concerto bom, eficaz, bem calculado. Mas não me parece que seja coisa para mudar a vida de ninguém.

Eu aprovo disto!
- Como eu previ, houve cerca de 10 pessoas realmente entusiasmadas com o concerto de Gomez. À minha frente estavam umas pessoas sentadas a jogar às cartas durante o concerto. Alguém gritou "Get Myself Arrested" umas quantas vezes, mas não pegou. A mim soube-me a pouco, e resta-me esperar que cá venham em nome próprio.





- Isto de festivais urbanos cansa como o raio. Festival a sério é pegar na tenda e na trouxa e ir para longe de Lisboa. É claro que para o ano esqueço-me e vou ao Alive outra vez, mas por agora estou muito exaurida. 

Curtam Gomez e não se esqueçam de comprar bilhete para Arcade Fire.





17.6.10

Hollywood, uma ideia

Há uns anos atrás tive uma ideia genial para um filme. Infelizmente não me tornei cineasta e não me parece que tal vá acontecer nos tempos próximos. Por isso decidi partilhar a minha ideia com o mundo e esperar que chegue aos ouvidos de alguém com poder executivo.

Este é o meu pitch:

Um filme sobre a vida de Jean-Paul Sartre, livremente baseado na obra A Naúsea, e no papel principal....

wait for it.....

BUSCEMI!

11.6.10

Music Video Awards – The TSP Edition - 2ª Parte

E os vencedores:

Medalha de bronze

Spike Jonze
O americano Spike Jonze é mais reconhecido pelo seu trabalho como realizador pelas suas duas colaborações com o argumentista Charlie Kaufman Being John Malkovich e Adaptation e mais recentemente pela sua adaptação ao cinema do conto infantil Where the Wild Things are. No entanto, Jonze foi o homem por trás da câmara em alguns dos vídeos mais memoráveis da década de 90, caracteristicos pela sua simplicidade e originalidade. Associado sempre ao universo indie americano, Jonze fez vídeos para The Breeders, Weezer, R.E.M., Sonic Youth para nomear alguns e conta também com duas colaborações com a “anãzinha islandesa” em It’s so Quiet e It’s in our hands.

Mas Jonze ganha a sua posição no pódio por um vídeo apenas, que será, provavelmente, um dos mais geniais videos da História. Sim, da História. É ele o absolutamente inesquecivel Praise you de Fatboy Slim. O vídeo filmado com qualidade de câmara de telemóvel mostra uma muito mal vestida trupe de dançarinos, que actua em frente a um cinema para os transeuntes com uma coreografia tão tosca como enternecedora. Parece amador, mas não é. Desaprender tudo o que sabemos e regressar à simplicidade total é um feito mais admirável do que pode parecer à primeira vista. Quem viu nunca mais se esqueceu e não consegue deixar de esboçar um sorriso ao rever.
Não tão genial mas igualmente bom foi o vídeo de Weapon of Choice, também para Fatboy Slim. Porque se é preciso alguém para dançar, que seja o Christopher Walken.

Medalha de Ouro

Jonas Akerlund

Se um vídeo é censurado/banido/remetido para a programação de madrugada da MTV é porque, provavelmente, terá dedo deste senhor. O realizador sueco que no currículo conta apenas com uma longa metragem (Spun, 2002) é o homem a quem se liga quando se precisa de um vídeo escandaloso, inesquecivel e controverso. Um interminável rol de títulos poderiam ser referidos para comprovar este traço: Try try try dos Smashing Pumpkins, My favorite game dos Cardigans, Turn the page dos Metallica e o tarantinesco Telephone de Gaga e Beyonce são todos bons exemplos. Mas Akerlund terá sempre de competir consigo mesmo, e dificilmente superará o momento de genialidade ímpar na criação do vídeo de Smack my bitch up dos Prodigy. O problema de Akerlund, a meu ver, é o perigo de fazer vídeos que se sobrepõem à música (por vezes sendo muito extensos, com cortes na musica e dialogo adicional)tornando-a secundária. No fim de contas, um vídeo é um veiculo de promoção. Para além disso ele é amigo da Madonna, e isso não se faz.

Platina

Michel Gondry

Espero sinceramente que o meu julgamento não esteja a ser turvado pelos meus gostos pessoais, porque julgo que não há, verdadeiramente, ninguém que supere Gondry na criação de peças que conseguem o equilíbrio perfeito entre a identidade do criador e a identidade do artista, resultando em experiências honestas e emotivas que ao invés de deixar a música para segundo plano potenciam segundas leituras que a enriquecem.
Lembro-me quando me apaixonei por Gondry sem saber quem era Gondry. Corria o ano 1993 de nosso senhor Jesu Cristo, tinha eu uns míseros 7 anos, quando vi pela primeira vez o vídeo de Bjork (mas esta senhora está em todo o lado?) para Human Behavior, e o meu espirito infantil foi conquistado por aquele universo de florestas e conquistas da lua, ursos de peluche que engolem criancinhas (para mim, a Bjork parecia ter a minha idade) e traças de papel que voavam sobre a sopa.
Desde então Gondry nunca me falhou. Os seus universos são surreais e oniricos sem nunca perderem uma qualidade absolutamente táctil e humana. Gondry sabe capturar as aleatoriedades do pensamento inconsciente importando as texturas da realidade que equilibram a estranheza e a verosimilhança.

Os vídeos de referência são demais para nomear na totalidade, mas tomo a liberdade de destacar alguns. Around the World dos Daft Punk, Music sounds better with you dos Stardust, Like a Rolling Stone dos Rolling Stones, Knifes out dos Radiohead e Let forever be dos Chemical Brothers foram dirigidos pelo francês, e os White Stripes renderam-se e contam com três colaborações com Gondry, entre eles Fell in love with a girl, mais conhecido como “aquele vídeo do lego”.

Mas será talvez em 1997 que Gondry teve o seu maior feito, conseguindo com um vídeo dar uma nova vida a uma banda cuja carreira e reputação estavam à beira do precipício. Everlong fez com que os Foo Fighters deixassem de ser, aos olhos do público, os restos mortais dos Nirvana e passassem a ser uma banda com identidade própria, bons rapazes com sentido de humor, alguma tendência para o transvestismo e o porreirismo tipico de quem não tem medo de fazer más figuras. A música era boa, mas Gondry ajudou.
No cinema Gondry foi autor de alguns objectos de culto como Eternal Sunshine of the Spotless Mind e The Science of Dreams que são igualmente representativos do que é o imaginário de surrealismos infantis agridoces de Gondry. Be kind/Rewind é mau e não há desculpas, mas a ideia era boa e eu vou encontrar as forças no meu coração para perdoa-lo. Com um currículo assim, quem se recusará a faze-lo?


Eu assumo que muitos nomes ficaram de fora e gostava de ouvir mais opiniões, mas aviso já que escusam de me vir falar do Thriller do Michael jackson. O vídeo é bom e revolucionário, sim. Mas é também a unica coisa relevante da carreira de John Landis, um realizador dos estudios Disney que entre outras parvoices realizou a versão televisiva de Querida, encolhi os miudos. Tá bom?

10.6.10

Music Video Awards - The TSP Edition - 1ª parte-

        Para quem gosta de música e de cinema em igual medida um bom videoclip pode ser motivo de real regozijo, em formato “two ein one”. Pelo meio dos incontáveis vídeos de performance e de shameless self promotion surgem por vezes casos que funcionam como verdadeiras curtas metragens musicais que por uma razão ou por outra ficam para sempre gravadas no imaginário de melómanos e de cinéfilos.

        Como, salvo as excepções, os vídeos não têm um genérico que identifique o realizador ficam por vezes anónimos os génios por trás da câmara de muitos dos vídeos mais memoráveis da História (atribuir o vídeo às bandas é injusto, na maior parte das vezes não têm nada a ver com o assunto).
Mesmo sabendo que a injustiça é inevitável e que muitos nomes merecedores de menção ficarão de fora, tomei a liberdade de compilar, considerar e premiar alguns dos responsáveis por alguns dos títulos de maior destaque no espólio videomusical dos últimos anos.

Menções Honrosas –

Jonathan Dayton e Valerie Faris

                O casal de realizadores oscarizados pelo seu Little Miss Sunshine é responsável por alguns dos vídeos mais interessantes dos anos 90. Tonight, Tonight e 1979 dos Smashing Pumpkins, Freak on a Leash dos Korn, um chorrilho de videos dos Red Hot Chilly Peppers, entre eles  Aeroplane e Californication são alguns dos trabalhos mais conhecidos do casal.  Soundgarden, Ramones, Oasis, Extreme, R.E.M... Os anos 90 estiveram recheados de vídeos de Dayton/Faris. Mais recentemente o duo dinâmico realizou um vídeo para Britney Spears, mas enfim, todos temos contas para pagar...

Chris Cunningham

O corpo de trabalho de Cunningham não é muito extenso, mas dois dos seus vídeos são dos mais marcantes dos últimos anos: o arrepiante All is full of love da Bjork e Windowlicker de Aphex Twin (que confesso nunca ter visto na integra por me dar uma indisposição desgraçada).
Cunningham assinou também Flex, uma peça de video-art acompanhada de musica de Aphex Twin. Não querendo entrar por questões essencialistas, é curiosa a linha que distingue um videoclip de video-art musical. Um passa na MTV outro passa em galerias de arte? Bom, hoje em dia, tudo passa no YouTube.

Anton Corbijn

A minha simpatia pelo trabalho deste notório fotografo causa-me algum pudor no momento de falar do seu trabalho em videoclips.
Quando pensamos em bandas boas com um longo historial de vídeos cretinos pensamos em Depeche Mode. A culpa? Do Corbjin. Enjoy the Silence? Sim, foi ele.
Realizou também Heart Shaped Box dos Nirvana, que não é propriamente mau, mas seria mesmo adequada tanta bizarria avant garde aos pais do género musical menos teatral das ultimas décadas?

Hype Williams/Joseph Kahn

Não, não estão associados nem são um casal. Ponho-os no mesmo saco por serem os reis dos vídeos de pop e hip-hop. Britneys, Aguileras, gangster rap e hip hop genérico é com eles. Kahn é também culpado (porque a expressão é esta) por muitos vídeos dos Muse, outros pobres desgraçados cujos vídeos nunca estão à altura da música.


Os grandes vencedores no próximo post.

1.6.10

Carta aberta a Lady Gaga

Querida Lady,

Gostava que soubesses como a minha opinião acerca de ti mudou desde a primeira vez que tomei conhecimento da tua existência até ao momento presente. Lembro-me da primeira vez que vi o vídeo de Poker Face, que visto de esguelha pareceu-me ser a Christina Aguilera mas depois percebi que era outra pessoa, uma loira não tão bonita mas mais.. digamos... interessante. Confesso que não liguei absolutamente nenhuma. Ignorei-te, Gaga, desculpa-me. Tomei-te por uma bimba qualquer do euro-electro-trash em vez de olhar com atenção. Depois comecei a ler o teu nome em todo lado, normalmente numa referência ao facto de estares sempre de cuecas. Também não dei grande importância, uma vez que muitas das tuas colegas celebridades nem roupa interior costumam ter.

Mas um dia vi o vídeo de Bad Romance e não te pude ignorar mais. Não era uma simplória qualquer que ali estava, num vídeo que parecia um filho bastardo de Alexander McQueen e Mathew Barney, uma criatura que mais do que se abanar em trajes menores jogava com valores estéticos e representativos, brincava com simbologias e linguagens. Uma Kate Bush da dance music. Quem era afinal esta figura avant-gard com Rainer Maria Rilke tatuado no braço a rosnar “rah rah ah ah ah roma olalah gaga roma rah” numa afirmação desavergonhada de si mesma como personagem ficcional e absurda, como afinal, todas as estrelas são (ou deveriam ser).
Digo deveriam porque, como tu sabes Gaga, o estrelato já não é o que foi em tempos. Neste mundo de Facebooks e Twitters que nos permitem saber cada passo e pensamento dos que conhecemos e dos que não conhecemos, as celebridades abrem as portas das suas casas com uma desconcertante naturalidade. Vemos as suas casas no Cribs. Sabemos dos seus amores, divórcios, corações partidos, traições, dietas e doenças por entrevistas cândidas em talk shows, principalmente no derradeiro confessionário das celebridades, o programa da Oprah Winfrey. Vemos sessões fotográficas sem maquilhagem nem photoshop. Sextapes são “acidentalmente” divulgadas. Vemos reality shows onde podemos acompanhar as suas vidas e perceber, finalmente, que as estrelas são seres humanos, como nós.
Mas não são, como tu, Lady Gaga, sabes muito bem. Foi-te dito que o Prince não vai às compras de fato de treino e percebeste. Uma estrela é sempre uma estrela. Não se liga e desliga quando se quer, não se oscila entre a humanidade corpórea e a divindade etérea do estrelato. A Stefanie não sei das quantas não aparece jamais, é uma coincidência, um corpo que tu, Lady Gaga, ocupaste para levar a cabo a tua missão.  Como mais ninguém da tua geração abraçaste o conceito de artista, e mesmo com a parca roupa que usas, não existe qualquer vestígio de sobre-exposição em ti. Não sei quem és, conheço apenas o que escolhes mostrar: uma imagem icónica e memorável, um animal de extremos, uma criatura mítica de obstinação  e vontade inquebráveis.

Muitos te têm comparado a Madonna, mas sabemos bem que não é uma comparação válida. Lady Gaga nunca poderia envelhecer e fraquejar, nunca se poderia acabar como uma realeza musical menopausica de dedos cadavéricos cravados num trono que ninguém quer roubar neste mundo musical democrático. Atrevo-me a dizer, um D. Duarte da Pop. Não. Tu não serás Madonna.

Porque tu és Monroe, Elvis, Bogart e Dean. Sabes que vais ter de morrer jovem e trágica, indecifrável e mítica, eternamente bela e grotescamente sexual. Asfixia auto-erótica talvez? Fica a sugestão.

No fundo o que eu te quero dizer é isto: aprendi a respeitar-te e admirar-te, mas continuo a não conseguir gostar da música que fazes. Tentei ouvir o teu albúm, a sério que tentei, mas é mau demais.

Lady Gaga, um apelo: vêm para o rock. Precisamos de alguém como tu por aqui.

27.5.10

Interpol

Retiro tudo o que tinha dito até agora acerca deste assunto e retiro parte dos nomes feios que chamei aos U2 (mantenho a outra parte dos insultos que é para ver se aprendem).

Os Interpol perceberam que fazer a primeira parte nuns concertos em Coimbra que estão esgotados há quase um ano era uma brincadeira de mau gosto e por isso estarão em Lisboa a 12 de Novembro para um (apropriado) concerto em nome próprio no Campo Pequeno. Os bilhetes custam entro os 30 e os 35 euros e estarão à venda a partir de amanhã (dia 28) nos sítios do costume (mas não no Pingo Doce, imagino).


24.5.10

Livros ao preço da chuva? Manda vir!

Há já bastante tempo que os únicos livros que compro em Portugal são as edições baratuchas que vêm de vez em quando com o Público ou com a Visão ou bagatelas em segunda mão comprados nas feiras do livro das estações do Metro. Confesso que sim, sou sovina, e custa-me muito dar mais do que 15€ por um livro, e mesmo assim...

Por isso é que uma das melhores coisas que me aconteceu foi receber a dica de um amigo acerca de um site inglês - www.bookdepository.co.uk - onde há de tudo, por preços acessíveis e sem - repito, SEM - portes de envio.

Para vos dar um exemplo do género de poupança de que se está a falar: no há cerca de um ano tive de adquirir o seguinte titulo por motivos académicos, "The expression of the emotions in Man and animals" de Darwin. A edição portuguesa, publicada pela Relógio d'Água custava cerca de 20€ nas livrarias. Comprei uma edição toda catita da Dover Publications por  11,32€, e para mim, é um bónus ler uma obra na língua original. É aquilo que se chama vulgarmente de situação "win-win".

Vejam por vocês próprios. Posso dizer que neste momento o meu basket conta com 7 livros por uns meros 24€. Pesquisem as áreas dos vossos interesses e certamente encontrarão uns belos negócios!

Naturalmente, esta dica dirige-se a quem lê em Inglês confortavelmente (apesar de se conseguir encontrar uma ou outra edição noutras línguas) com a vantagem de poder ler autores anglo-saxónicos sem as constrições do trabalho de tradução.

Espero que vos seja útil a sugestão. Enjoy!

20.5.10

Great News!

Deus sabe que eu andava a precisar de uma boa noticia. Os deuses falaram e a boa nova foi anunciada!


Dia 19 de Setembro os Eels vão dar concerto no Coliseu dos Recreios!




Joy to the world! Praise the Lord!



13.5.10

A banda mais underrated do mundo

Peço desde já desculpa pelo inglesismo, mas confesso que a palavra “subvalorizado” não me parece suficiente para transmitir a ideia de injustiça e frustração implícita na expressão underrated.

Antes de chegar ao assunto fulcral, queria (e ainda quero, é um pretérito de cortesia) adereçar a seguinte questão: parece que é uma ideia generalizada que uma banda indie para ser indie, ter de ser underrated, porque se uma banda indie tiver sucesso, deixa de ser indie.
Isto é absolutamente falacioso, e eis porquê: indie é, concretamente, diminutivo para independente. Mas a independência em questão não é em relação a editoras (muitas bandas indie têm contractos com grandes editoras) nem em relação aos media. O indie tem a ver com a liberdade criativa de fazer música fora dos parâmetros, modelos, restrições e convenções do mercado, evitando ao máximo a associação com um ou outro determinado género ou movimento (ironicamente, criando um novo género, mas não vamos falar disso agora). Ser indie é ver toda a gente a correr numa direcção e decidir ir no sentido contrário. O que o indie NÃO é, certamente, é ser-se estupidamente genial mas viver uma carreira inglória. Isso está fora de moda e já não se usa desde o Nick Drake.
Não só há bandas/artistas indie com sucesso desmesurado (basta olhar para os cartazes dos festivais de Verão deste ano) como há bandas indie que são simplesmente más e não têm sucesso porque são inaudíveis. Indie não pressupõem qualidade nem obscuridade. A dificuldade em obter visibilidade prende-se unicamente com o principio de subversão daquilo que é convencional da construção musical, que torna as musicas menos “comerciais”. É uma dificuldade, mas não é uma impossibilidade. Que isto seja ponto assente.
Agora, verdade indiscutível: os amigos indie são os mais chatos que se podem ter. Porque somos aqueles que tentam impingir insistentemente coisas estranhissimas como dEUS, Belle and Sebastian, Moldy Peaches, ou Inspiral Carpets, e não percebemos como é que os nossos amigos não adoram aquilo, como nós.
E desta forma, chego ao meu objectivo, impingir-vos com entusiasmo aquela que eu considero ser a banda mais injustamente underated da actualidade: os Gomez.

Os Gomez são britânicos mas não são musicalmente british, tanto que até ter ido pesquisar, estava convencidissima de que seriam americanos. O som dos Gomez causa alguma estranheza, por ser uma mistura de sons e registos familiares (folk, electrónica, rock e ainda mais qualquer coisa) combinados de formas improváveis mas confortáveis. É uma daquelas bandas que não acredita em tal coisa como DEMASIADAS variações numa só música, e neles, funciona! É também uma caracteristica incomum a co-existência de 4 vocalistas na banda, com registos bastante diferentes que acrescentam uma textura mais interessante e menos cansativa às canções (considerando que a voz de Ben Ottewell é de barítono meio mastigado-meio arrastado - mas menos enervante que o Eddie Vedder- e Ian Ball têm uma voz tão doce que sem o contraste dos arranjos e das outras vozes podia estar numa qualquer boy band moderna – conferir o inicio de “Cry on Demand”)
Os Gomez começaram a sua carreira há mais de 10 anos e lançaram 6 álbuns de originais, por ordem:  Bring it On, Liquid Skin, In Our Gun, Splitt the Difference (o meu favorito), How we Operate e A New Tide. No Reino Unido tiveram reconhecimento junto da critica e merecido sucesso comercial, mas por alguma razão, o resto do mundo não leva os Gomez em braços, e eu não sei porquê. Caso não saibam, os Gomez vão actuar em Portugal, no festival Alive, e o melhor que tiveram foi o seu nome em letrinhas pequenas no cartaz, um concerto diurno, e se for como em Paredes, meia dúzia de gatos pingados a delirarem por vê-los ao vivo, enquanto a maior parte do público vai comer qualquer coisa.
Aconselho Gomez vivamente, e espero ver-vos bem cedinho no passeio marítimo de Algés no dia 10 de Julho. 

24.4.10

Deixem falar a bonecada

Eu tenho uma confissão a fazer: eu adoro cinema de animação.

 Gosto de animação tradicional e computorizada, de musicais, comédias, melodramas e romances, gosto da Disney, da Pixar e da Dreamworks, gosto de animação americana, francesa, japonesa e até checa (se for apresentada pelo Vasco Granja), gosto de Merry Melodies, de Duck Tales e de Looney Toons. Tive a sorte de pertencer a uma das últimas gerações que se encantou com princesas que cantam com pássaros pela manhã, que se comoveu com o Fievel e a sua irmã a cantarem debaixo da lua e para quem o melhor Robin Hood do cinema é a raposa charmosa da Disney. Gosto de animais que cantam e falam, gosto de magia e sonho e romance e tudo mais que venha.

Isso aí é uma brumbuzumba, viu?
Mas há uma coisa de que não gosto, e que me perdoem os profissionais da industria: não gosto de animações dobradas em Português. Não digo que não se façam, até porque eu também já fui criança e analfabeta e vi-me obrigada a ver muito desenho animado dobrado em brasileiro (era o que havia, não sei se se lembram).
Mas hoje em dia é preciso assumir que o dogma que ditava que a bonecada era só para criancinhas já era, e que nós, adultos, também gostamos de ir ao cinema e ver uma animação ou outra, e, já agora, ouvir as vozes dos actores de renome que vimos referenciados nos cartazes. Assumo que hoje em dia já se fazem trabalhos muito respeitáveis de tradução e dobragem em Portugal, mas era simpático ter margem para escolha.
Inúmeras animações têm estreado em Portugal APENAS na versão dobrada (Cloudy with a Chance of Meatballs, por exemplo) e em muitos casos, o espectador é obrigado a escolher: ver a V.P. em 3D ou ver a V.O. em duas dimensões (assim de repente lembro-me do Monsters vs Aliens), o que me faz sentir que estou a ser forçada a ver a V.P. para pagar o trabalho da equipa de dobragem. Como não gosto de ser forçada a coisa nenhuma, acabo por não ver nem um nem outro, guardar o meu dinheiro, e recorrer à pirataria (no caso disto estar a ser lido por algum agente da autoridade, estou a mentir, claro).

Vai umas agulhas nos olhos?
Para além da questão da dobragem, existe ainda uma óbvia negligência no que diz respeito à catalogação dos filmes de animação. O Japão já nos ensinou a todos que lá porque é desenho animado não quer dizer que seja para crianças, e portanto, convêm dar uma vista de olhos ao filme antes de decidir que público é que o vai ver. O caso mais surpreendente dos últimos tempos foi o Coraline de Henry Sellick, a partir do conto de Neil Gaiman. Para quem não conhece, é a história de uma mocinha que descobre um negro universo paralelo onde uma mãe alternativa e aterrorizadora tenta rapta-la e cozer-lhe botões nos olhos. Mas é uma animação, portanto não só foi dobrada, como teve direito a classificação M4. Claro, porque se há coisa que a pequenada gosta é de filmes sobre vistas vazadas.

 
Mas será que não há ninguém que veja os filmes antes? Eu faço desde já uma candidatura espontânea para ter esse emprego! E prometo que se depender de mim, não haverá criancinhas com perturbações de sono crónicas por verem desenhos animados sobre agulhas nos olhos.

That's all, folks!

21.4.10

Purismos

"Creio no Cinema, arte muda, filha da Imagem, elemento original de poesia e plástica infinitas, célula simples de duração efémera e livremente multiplicável. (...) Creio no Cinema puro, branco e preto, linguagem universal de alto valor sugestivo, rico na liberdade e poder de evocação. Creio nesse Cinema. Em qualquer outro, o que transige com o som, a palavra, a cor, não posso e não quero crer."
 Vinicius de Morais, Credo e Alarme, 1941

Tenho vindo a ler nos últimos dias uma série de crónicas e criticas de cinema escritas pelo poeta Vinicius de Moraes para algumas publicações brasileiras como o jornal A Manhã entre 1941 e 1953. Constatei com curiosidade que Vinicius de Moraes, cinéfilo acérrimo, era na verdade um, digamos, "purista" do Cinema, isto é, um defensor do cinema puro; mudo e a preto e branco. Para Moraes, o som e a cor roubavam ao cinema tudo que este tinha de poético e crucificava o technicolor, a MGM, o star system e muito do que era a produção oriunda do "bosque sagrado" com um elegantíssimo desprezo.

Não pude deixar de pensar na aversão de muita da critica contemporânea (e muitas vezes, minha também) ao uso (e abuso) de novas tecnologias como o CGI e o 3D, pelas mesmas razões que apoquentavam o poeta brasileiro.
Acredito que se olharmos para as coisas com uma perspectiva histórica, é mais fácil compreender a forma como as novas tecnologias são introduzidas na produção cinematográfica, passando sempre por uma fase de novidade e deslumbramento que é, geralmente, medonha.

Se quando o som surgiu desatava tudo a cantar de 5 em 5 minutos e se quando a cor surgiu os cenários e figurinos eram coisa para causar ataques de epilepsia em muito boa gente, é natural que a fase de novidade dos efeitos especiais computorizados vá pecar por hipérbole, em tentativas sôfregas de explorar estes meios até aos seus limites, ou digamos, aos limites do ridículo. E claro, tal como nos filmes que Vinicius trucidava nos seus textos, o que fica para segundo plano é sempre a história.

É preciso dar às coisas a importância que elas têm.

Com o passar dos anos, o cinema aprendeu a usar a cor e o som com contenção, e a comédia musical liberou a tecnologia para que outros géneros, como o drama, a pudessem também usar. Hoje em dia, tirando pontuais casos que se servem do preto e branco para cumprir um propósito artístico - ou contornar limitações financeiras, todos os filmes são a cores, sem que a intensidade dramática da história seja comprometida por isso (salvo as excepções, claro). A sensatez de usar uma tecnologia de forma subtil é resultado de muita experiência uma ou outra década de tentativa-erro, acabando por se integrar naturalmente na experiência cinematográfica.

Se é verdade que à pala de CGI e 3D temos levado com disparates como o Avatar e outros que tais (Puxa, que fitinha mais besteira, não é não, Vinicius?), creio que a partir do momento em que o dia a dia do público estiver saturado de efeitos especiais, da televisão à câmara do telemóvel, também o Cinema aprenderá a usar estes meios de forma contida e sábia, e a critica poderá então abespinhar-se com outra nova tecnologia qualquer.

14.4.10

Filme de encomenda

Não é para bater no ceguinho, ou melhor no Tim Burton, mas constou-me que o senhor vai fazer uma versão da Adams Family em animação/stop motion.

Como é que este filme ainda não está feito e eu já tenho a sensação que já o vi...?

13.4.10

Alice Vs Parnassus

Em muito do que tenho lido acerca de Imaginarium Of Doctor Parnassus parece inevitável a referência a Alice no País das Maravilhas, mais precisamente, à versão de Tim Burton. De facto existem semelhanças fundamentais entre os dois filmes mas resultam em duas experiencias cinematograficas extremamente diferentes.  


            É clara a semelhança dos universos simultaneamente fantásticos e assustadores que existem no fundo da toca do coelho de Alice ou do outro lado do espelho de Parnassus: ambos são formulações do imaginário e do onírico, da magia de deixar a lógica e o sentido de parte e do horror de darmos de caras com os nossos maiores medos. Terry Gilliam e Tim Burton são ambos bem conhecidos por escolherem projectos pelas possibilidades estéticas dos mesmos (um mais para o gótico e o outro mais para o, digamos, barroco) e não tanto pela história, e até aqui, tudo bem.
As semelhanças, penso eu, ficam mesmo por aqui.

Ouvi e li em muito lado que se estava mesmo à espera que Tim Burton fizesse a Alice, que era um filme à sua medida e que já se estava mesmo à espera do que ele ia fazer. Pessoalmente, não poderia concordar menos, e a verdade é que o projecto era tão desadequado para Burton que ele teve de mudar a história completamente para fazer com que o filme funcionasse. A Alice de Carrol Lewis é um conto altamente alucinado, desprovido de grande sentido e totalmente episódico e fragmentado. Para um realizador “by the book” como Burton isso seria um inferno narrativo! Como tal, Burton pegou na Alice, pôs-lhe uns aninhos em cima, deu-lhe um contexto, passado, motivação e conflito. Criou uma história com principio, meio, clímax e fim. Inseriu, como quem não quer a coisa, uma insinuação de interesse amoroso. Reinventou personagens e certificou-se que estas evoluiram e aprenderam algo com a experiência. E no final, como é apanágio da Disney (e pensando bem, do próprio Burton) deu-lhe uma moral. Tudo construido de forma impecável, contenção estética e timing perfeito. Não é A Alice, mas, como dizem a dada altura do filme, “it’s almost Alice”.

 Já Terry Gilliam fez tão completamente o contrário que quase podia ser de propósito. É verdade que o inicio do filme sugere que vamos a assistir a um conto de contornos  tradicionais, pela imagem do livro onde surge, em latim, o subtítulo da historia: O homem que enganou o diabo. Mas ao contrario de Burton, Gilliam não se preocupa em dar todos os nós à historia, em resolver todos os problemas, em construir uma narrativa de acordo com todas as regras aristotélicas do que é “proper storytelling”. Na verdade, existe um certo tom oralidade, de aleatoriedade nos momentos de introduzir este ou aquele elemento sem que o público esteja preparado para tal. São muitas as pontas soltas e o filme sofre consideravelmente com este desequilíbrio da narrativa: as personagens são pouco claras nas suas intenções e o protagonismo é partilhado entre todos sem que seja possivel definir quem é principal e quem é secundário. Tony (Ledger/Depp/Farrel/Law) inspira confiança e empatia e afinal é vilão, Anton é dispensável e irritante e afinal salvou o dia. Os eventos que ocorrem no território imaginário são pouco claros (o que não é certamente despropositado) e certos elementos são absolutamente supérfluos e não acrescentam nada à historia (máfia russa? Porquê?!). Mas como somos avisados no inicio do filme, “Don't worry if it doesn't all make sense”. É dificil dizer quanto do filme é intenção do autor e quanto é resultado dos obstáculos que tiveram de ser ultrapassados para finalizar o filme, como a morte de Heath Ledger e o orçamento limitado de Gilliam.

Mas ao olhar para estes filmes interessa reparar na imagem mais do que na palavra, e na minha opinião, essa batalha é vencida por Parnassus. Há quem diga que um bom efeito especial é aquele em que não reparamos e se, à partida, estamos conscientes desses artifícios durante o filme, é um trabalho mal feito. Nesse aspecto, Burton disfarçou as costuras com mestria, criando um universo fantástico mas credível e palpável, com um 3D surpreendemente sóbrio, usado de forma sensata para conferir profundidade à acção, e nada mais. Mas no que diz respeito a efeitos especiais maus, existem dois tipos: os maus por falta de meios (como os infames discos voadores com fios visiveis de Ed Wood) ou maus por se ter tanto dinheiro que se esbanja em efeitos excessivos que saturam o filme, matam a história e cansam o espectador (que é como quem diz, Avatar). Gilliam obviamente não têm os meios, mas parece-me que, e o Terry Gilliam que me perdoe, ele não precisa de orçamentos avatarianos para fazer filmes, e cheguei a desejar que ele tivesse menos dinheiro ainda, para que todo o filme tivesse a magia artesanal que o torna tão envolvente. Da mesma forma que o palco móvel expunha sem pudor os artificios da construção teatral, o filme permite o espectador vislumbrar os truques, limitações e soluções mais ou menos eficazes da cinematografia. Nos momentos em que tentava um maior impacto visual, falhava. É precisamente nos quadros mais toscos e inacabados que Parnassus conquista o espectador (se este se disponibilizar para ser conquistado, isto é). O imaginário de Parnassus é um delicioso teatrinho barroco, uma brincadeira de crianças, um baile de máscaras trôpego e extasiado e uma vaga recordação ressacada da noite anterior. Não sabemos bem o que é que aconteceu, mas foi espectacular!
  
Confesso que não vi estes filmes com uma postura particularmente imparcial. Gosto muito do Tim Burton, mas houve tanto hype e expectativa à volta de Alice que quando o filme estreou eu já estava farta dele. Por outro lado, gosto muito do Gilliam, gosto muito de contos faustianos e gosto muito do Tom Waits. Quando fui ver o filme já ia preparada para gostar dele, e assim foi. Estou perfeitamente ciente das imperfeições de Parnassus, e sei que não são poucas. Mas eu prefiro imperfeito e emocionante do que perfeito e calculista, anyday!


1# Post - porque tem de ser.

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