"When critics disagree, the artist is in accord with himself"

Oscar Wilde

13.5.10

A banda mais underrated do mundo

Peço desde já desculpa pelo inglesismo, mas confesso que a palavra “subvalorizado” não me parece suficiente para transmitir a ideia de injustiça e frustração implícita na expressão underrated.

Antes de chegar ao assunto fulcral, queria (e ainda quero, é um pretérito de cortesia) adereçar a seguinte questão: parece que é uma ideia generalizada que uma banda indie para ser indie, ter de ser underrated, porque se uma banda indie tiver sucesso, deixa de ser indie.
Isto é absolutamente falacioso, e eis porquê: indie é, concretamente, diminutivo para independente. Mas a independência em questão não é em relação a editoras (muitas bandas indie têm contractos com grandes editoras) nem em relação aos media. O indie tem a ver com a liberdade criativa de fazer música fora dos parâmetros, modelos, restrições e convenções do mercado, evitando ao máximo a associação com um ou outro determinado género ou movimento (ironicamente, criando um novo género, mas não vamos falar disso agora). Ser indie é ver toda a gente a correr numa direcção e decidir ir no sentido contrário. O que o indie NÃO é, certamente, é ser-se estupidamente genial mas viver uma carreira inglória. Isso está fora de moda e já não se usa desde o Nick Drake.
Não só há bandas/artistas indie com sucesso desmesurado (basta olhar para os cartazes dos festivais de Verão deste ano) como há bandas indie que são simplesmente más e não têm sucesso porque são inaudíveis. Indie não pressupõem qualidade nem obscuridade. A dificuldade em obter visibilidade prende-se unicamente com o principio de subversão daquilo que é convencional da construção musical, que torna as musicas menos “comerciais”. É uma dificuldade, mas não é uma impossibilidade. Que isto seja ponto assente.
Agora, verdade indiscutível: os amigos indie são os mais chatos que se podem ter. Porque somos aqueles que tentam impingir insistentemente coisas estranhissimas como dEUS, Belle and Sebastian, Moldy Peaches, ou Inspiral Carpets, e não percebemos como é que os nossos amigos não adoram aquilo, como nós.
E desta forma, chego ao meu objectivo, impingir-vos com entusiasmo aquela que eu considero ser a banda mais injustamente underated da actualidade: os Gomez.

Os Gomez são britânicos mas não são musicalmente british, tanto que até ter ido pesquisar, estava convencidissima de que seriam americanos. O som dos Gomez causa alguma estranheza, por ser uma mistura de sons e registos familiares (folk, electrónica, rock e ainda mais qualquer coisa) combinados de formas improváveis mas confortáveis. É uma daquelas bandas que não acredita em tal coisa como DEMASIADAS variações numa só música, e neles, funciona! É também uma caracteristica incomum a co-existência de 4 vocalistas na banda, com registos bastante diferentes que acrescentam uma textura mais interessante e menos cansativa às canções (considerando que a voz de Ben Ottewell é de barítono meio mastigado-meio arrastado - mas menos enervante que o Eddie Vedder- e Ian Ball têm uma voz tão doce que sem o contraste dos arranjos e das outras vozes podia estar numa qualquer boy band moderna – conferir o inicio de “Cry on Demand”)
Os Gomez começaram a sua carreira há mais de 10 anos e lançaram 6 álbuns de originais, por ordem:  Bring it On, Liquid Skin, In Our Gun, Splitt the Difference (o meu favorito), How we Operate e A New Tide. No Reino Unido tiveram reconhecimento junto da critica e merecido sucesso comercial, mas por alguma razão, o resto do mundo não leva os Gomez em braços, e eu não sei porquê. Caso não saibam, os Gomez vão actuar em Portugal, no festival Alive, e o melhor que tiveram foi o seu nome em letrinhas pequenas no cartaz, um concerto diurno, e se for como em Paredes, meia dúzia de gatos pingados a delirarem por vê-los ao vivo, enquanto a maior parte do público vai comer qualquer coisa.
Aconselho Gomez vivamente, e espero ver-vos bem cedinho no passeio marítimo de Algés no dia 10 de Julho. 

2 comentários:

My Fashion Notes disse...

Olha aqui vai o meu bitaite para ti: miúda, tu escreves mesmo bem caramba!!!! Tens de escrever mais vezes que o pessoal agradece. Não é pessoal?!

kss
myfashion-notes.blogspot.com

Unknown disse...

ando a dizer isso desde 1999... e a tua irmã e o tico tiveram que os ver à força em pdc nesse ano. o tijuana lady naquele final de tarde foi de tal forma marcante, que 11 anos depois continua no top 10 dos arrepios na espinha!!!
mas podes contar comigo para o concerto diurno do alive, aliás é a banda que mais quero ver no festival. e, se não perderam o jeito, será a melhor meia hora do fim de semana. a ultima vez que os vi foi na apresentação do in our gun, no garage, e... foi lindo, na altura o concerto do ano!!!
até podem ser a banda mais underrated do mundo, mas para mim certamente que não.