"When critics disagree, the artist is in accord with himself"

Oscar Wilde

29.4.13

Iron Man Three ou Quero trincar a cara do RDJ


Fomos ver o Homem de Ferro Três ontem, que de vez em quando também me sabe bem um filme pipoqueiro.

Eu não me sinto à vontade para avaliar filmes de acção, porque o meu instinto é sempre dizer “a história é boa, as personagens são fortes, o conflito é relevante, mas as explosões e os efeitos especiais distraem um bocado” – que é como quem diz, não percebo muito bem o género.

Gosto do super herói, cientista e detective que salvou o mundo de extraterrestres e por causa disso começou a ter crises de ansiedade. Parte de mim gostava de ter visto este filme filmado pela Sofia Coppola: um super herói angustiado pelo seu super heroismo. Seria bem mais poético, mais baratinho e a banda sonora, xuxu!

Por falar em banda sonora, I’m blue dabbibbi dabbabba minii manana pipipi papapa

Gosto do levantamento de questões éticas à volta do progresso cientifico, apesar de estar um bocadinho visto no cinema em geral, nos filmes de super heróis em particular, e nos filmes do Iron Man em particular... particulariedade.

Gosto do actor que faz de actor que faz de terrorista que faz videos porque para mim, quanto mais meta, melhor.

Gosto do Robert Downey Jr, apesar dele só saber fazer uma personagem: Robert Downey Jr.

Gosto de pipocas, e gosto de filmes onde posso comer pipocas sem sentimento de culpa porque ninguém me ouve a mastigar com a barulheira dos tiros e explosões constantes. Ptttiuu! Ptttiuuu! Swoosh! Boooom! Crash! Bam!

Não gosto da Gweneth paltrow, a portanto gostei da sequencia “Deixa-te cair, eu juro que te apanho!/Aaaaahhhhhhhhhhhh/Ooops...”

O meu sindrome Obsessivo Compulsivo ficou um bocado a latejar, porque o filme se chama Iron Man Three, mas deveria ser Iron Man 3, visto que o segundo filme foi Iron Man 2. Se o próximo se chamar Iron Man IV dá-me uma coisinha.

Já mencionei que gosto do RDJ? Tenho vontade de lhe morder a cara de tão cute que ele é! Nham nham nham!
You sexy ex-con, you!
 

24.4.13

Do fundo do baú

Escrito numa encarnação passada. Para recordar.



 

Se hoje fosse uma noite de lua cheia eu dançaria na rua ao som de fanfarras escandinavas na companhia de osgas e de bobos de corte sifílicos até os gatos chorarem bílis... mas enquanto os sonos das algas marinhas forem perseguidos por pesadelos fálicos, as chuvas lilases de Primavera vão continuar a matar os charutos cubanos com Escarlatina.

Sendo verdade que poucos males há no mundo que não possam ser resolvidos por uma escadaria repleta de crianças em gabardines a comer bolos de arroz, a transpiração dos caminhos de ferro enferrujará sempre as guelras dos corações das mulheres ruivas.

Proponho então que todas as pêgas literadas apresentem o seu abaixo assinado para que cessem por fim os toques de telefone entre as 3 da tarde e as 7 da noite das terças feiras dos anos bissextos. E aí será possivel; mas apenas se todos os sapatos forem de cores diferentes e se os guaxinis conseguirem salvar os coros femininos de Gospel da forca.

A muitos parte o coração ver as febres das serpentes virgens, que lhes provoca aquela fome de amor que as faz roer incessantemente as unhas. Ora, para isso, que lhes pintem os olhos de roxo, porque não há nada mais triste no mundo do que uma chávena de chá frio.

Quando espreito pelos buracos dos ratos nas paredes dos barcos á vela, consigo ver de relance a cura para o cancro do colo do útero e os anões de cor albinos a organizarem as suas quermeses (e são as melhores! nada supera comer algodão doce enquanto se queima os pedófilos e as bruxas húngaras na fogueira).

Certo dia, á beira de um rio de lixívia, o T.S. Elliott escreveu-me um haiku de amor, e morreu de seguida, com um violento ataque de taquicardia sarcástica. Beijei-lhe o peito do pé e segui o meu caminho, deixando o meu eterno rasto de nenúfares e matéria estelar. Como em Júpiter cheira sempre a canela, parei de cantar e deixei os pirilampos vespertinos erotizarem-me as pontas dos dedos.

As minhas têmporas engravidaram de fantasias e esperei pelo parto num leito de bolo-rei e tabaco com sabor a mirtilos. Tive, passado 5 semanas, as minhas 4 filhas: a Raposa, a Colher, a Disenteria, e a Sobrancelha de Dali, que embalei no meu colo com canções revolucionárias em tom de D#m7. Todas elas cheiravam a hortelã-pimenta tépida...

Vi um coelho a correr apressado para dentro de uma árvore, mas não achei que fizesse sentido, por isso ignorei.

 
22 de Novembro de 2006 @ Faculdade de Letras

19.4.13

"Música? Gosto de mesmo tudo um pouco! Excepto..."


De vez em quando conheço pessoas que dizem que ouvem de tudo, gostam é de música, não são nada esquisitos. Pela minha experiencia, pessoas que dizem que gostam de tudo, gostam de pouco mais do que Coldplay e U2. “Gosto de tudo, oiço de tudo um pouco.... *pausa para reflexão* menos metal e assim. Isso não gosto”. Coitados dos metaleiros, sempre excluidos do coração das pessoas que ouvem tudo.
 
Mas se calhar quem diz que ouve tudo, é porque conhece pouco. Porque quando percebemos mesmo quantos géneros, e sub generos, e as mil variações progressivas e regressivas de cada genero e subgenero existem... bom, ficamos com uma ponta de febre e percebemos que “tudo” é muita coisa, e portanto gostar de tudo seria coisa para aleijar.

Isto de fazer música em Portugal têm que se lhe diga. O mercado é pequeno, é o que se costuma dizer. Somos poucos, de forma geral, e somos menos ainda a consumir. E depois dentro dos poucochinhos que consomem, ainda é preciso dividi-los em mercadinhos de consumo mais pequeninos. É uma boneca russa que deixa os criadores com um público possivel do tamanho da bonequinha mais pequena de todas. E às vezes, essa bonequinha abre a boca para dizer disparates como: “o tipo de música que mais gosto é música Portuguesa”.

Se calhar é moda, se calhar é um sentimento de exultação nacional decorrente destas coisas das crises, se calhar é uma coisa que nos andam a vender através dos media. Se calhar é parvoice. É, eu acho que é mais isso.

Quem alega que o seu genero de música favorita é “música portuguesa”, esquece-se que está a abranger todos os generos e subgeneros que se faz em Portugal. A não ser que se considere  a  música Portuguesa como um género em si mesma. Não é rock, nem hip hop, nem pop, nem metal, porque isto são outros géneros de música. Eventualmente pode ser a filial portuguesa desse genero-mãe que é a World Music, e sendo assim, só podemos chamar música Portuguesa à música tradicional portuguesa. Portanto: Fados e folklore. Eventualmente podemos atirar para dentro do saco o pessoal do novo-folklore – Deolinda, A Naifa, Diabo na Cruz, e diabo que o carregue. Mas então, uma banda portuguesa que toque qualquer outro género, não têm passe de entrada para os ouvidos das pessoas que gostam mesmo é de musica portuguesa? Não, não deve ser isto...

Ah, já sei: música portuguesa é música cujas letras são em Português. Faz sentido, não haja dúvida. Portanto o standard do ouvinte não tem nada a ver com género músical nem com qualidade. Basta que a música seja cantada em Português! Portanto seja o Boss AC, sejam os Ornatos, seja o Tony Carreira, sejam os Capitão Fausto. Seja bom, seja mau, seja pimba, seja romantico, seja pesado, seja do bairro. Isso não interessa nada, desde que a letra seja na lingua de Camões. Isto é ao mesmo tempo angustiantemente inclusivo, pois mete no mesmo saco todos os artistas de todos os géneros que têm como único ponto em comum o facto de cantarem em Português, e injustamente exclusivo: com que direito se pode pôr à beira do prato um músico ou banda que canta noutra lingua qualquer? Seja Inglês, ou francês ou seja lá a lingua que for que os Blasted Mechanism usam. Como é possivel ter um coração musical tão grande que consegue abraçar tanto os Paus como as bandas dos Morangos como Açucar, mas que não consegue arranjar um espacinho para gostar de You can’t win charlie Brown, de Legendary Tiger Man, de David Fonseca, da Aurea, dos Moonspell... e no meio disto tudo, onde metemos os Dead Combo? Em que lingua tocam eles? Pelo sim, pelo não, ficam de fora porque o nome da banda está em estrangeiro. Já a Nelly Furtado pode entrar, porque cantou aquela música em Português, daquela vez, há uns anos, e a tetra avó era Açoriana, ou coisa que o valha, e fala Português, tipo, mais ou menos.

Podemos parar de bater no ceguinho da lingua? Já não ultrapassamos esta fase quando os Silence 4 apareceram?

Mas ofereço aqui a minha solidariedade para com as bandas portuguesas que.... esperem, antes de continuar, acho que preciso de esclarecer um pormenor:

Definição:

Banda Portuguesa: conjunto de músicos cujos membros sejam cidadãos Portugueses. Ponto final.

Ora dizia eu: as bandas portuguesas que são constantemente bombardeadas com a questão “cantar em português ou cantar em inglês”. Rejeitem a pergunta. Ofendam-se com a pergunta! A escolha de cantar nesta ou naquela lingua é uma escolha estética, e não deve ser posta em causa, nem devem pedir desculpa por isso. Ninguém vai massacrar um pintor que pinta com aguarelas. “Porquê pintar com aguarelas? Porque não pintar com guache?”. Seria estupido, não seria? Cada artista/criador escolhe os materiais e veiculos que lhe parecem mais eficazes na construção e transmissão da sua mensagem.

Não é preciso agradar a toda a gente, nem é possivel. Nem sequer aquelas pessoas que ouvem de tudo. Um músico é um criativo, e deve criar segundo o seu próprio sentido de estética e segundo o que lhe parece relevante, e tirar satisfação disso apenas. Há muita gente que não gosta, não faz mal. Haverá quem goste. Fazer compromissos no seu processo criativo só para agradar a mais gente, é duplamente estupido: acaba-se insatisfeito com o que se criou, e no final, há sempre quem não goste.

Se temos de excluir alguém, vamos excluir aquelas bandas que cantavam em inglês, mas que decidiram tentar apanhar o comboio da moda da “nova música portuguesa”, e mudar de nome, de estilo e de lingua, numa demonstração patética de falta de espinha dorsal e integridade criativa *cof cof os lábios cof cof fonzie cof cof*

Tirando as vezes em que a música Portuguesa tem súbitas crises de auto confiança.
 
Valorizar música só porque está cantada em Português, baixa os padrões de qualidade. Vejam o caso da Antena 3, que decidiu ter quotas para cumprir (30% música portuguesa) e acaba a encher a programação de coisas absolutamente aterradoras, só porque sim. Não por ser bom, não por ser do agrado do ouvinte, não por ser inovador ou orelhudo: só porque é cantado em Português. Ingrato, digo eu.

Portugal tem muitos músicos, é um país de músicos. Toda a gente e a sua tia têm uma banda. A sério, perguntem! Entrem num call center, ou escritório, ou mercearia, e peçam para que quem seja músico levante a mão. Vão lá, e depois digam-me qualquer coisa. Eu não tenho nenhuma banda, já tive – e cantavamos em inglês. Nunca ninguem questionou a questão da lingua, até porque quer em Português quer em inglês, aquilo seria sempre considerado mau demais e a lingua em que cantavamos era mesmo o menor dos problemas.

16.4.13

Django, bitch please...

Eu tenho um problema com o Django Unchained. É um problema que me abala profundamente e que não andasse eu cansada, até era coisa para me tirar o sono. O problema é este: não gostei.

Se fosse qualquer outro filme, não haveria problema nenhum. Eu não gosto de imensos filmes. O que me incomoda é ver-me a ser obrigada a incluir as palavras “Tarantino” e “desilusão” na mesma frase. Incomoda-me pela primeira vez não ter tido vontade de me por em pé na sala de cinema a assobiar e a aplaudir no final do filme. Perturbou-me encontrar posts entusiastas de amigos meus no Facebook, claramente em êxtase após ter visto o filme: o mesmo êxtase que eu senti nos dias a seguir a ver reservoir Dogs, Pulp Fiction, Kill Bill’s, Inglorious Basterds, e até a ver Death Proof, considerado um filme menor. Eu lembro-me bem da sensação, não acontece muitas vezes, e eu andava há meses à espera de voltar a sentir o mesmo. Mas saí da sala de cinema sem vontade de aplaudir nem de ir para o Facebook celebrar a experiência. Saí desiludida e por isso, saí zangada.

Eu não me incomodo com violência nem sexo gratuito, se me incomodasse não ia ver filmes do Tarantino. Eu não me incomodo com palavras e com racismo. Isso são recalcamentos americanos e que a nós não fazem comichão. Eu incomodo-me com historias mal contadas, e é esse o problema que tenho com o Django.

Tarantino é tem sido sempre considerado um realizador arrojado, polémico e rebelde. Só que não é: é um contador de histórias na tradição narrativa mais clássica possível. Mesmo que as suas historias estejam encharcadas em sangue, maminhas e palavrões, por baixo encontramos sempre a história, limpinha e impecável, tudo no sitio certo, progressão de personagem impecável, clareza absoluta de intenções, ritmo irrepreensível. Não vale sequer a pena mencionar pela milésima vez a obsessão de Tarantino pela história do Cinema e os seus mestres. É um tipo que percebe do assunto, isso é ponto assente.

Então alguém me explique de onde saiu este trapo de historia mal enjorcada? Porque se um filme trapalhão como este poderia ser perdoável na mão de qualquer outro realizador, vindo de Tarantino, é atroz.

Problema 1# - Personagem principal?

Django Unchained foi nos vendido com a seguinte premissa: um escravo negro liberta-se e desata a matar tudo o que se mete à frente dele para salvar a sua mulher e vingar-se do diabo branco que o oprimiu. Esta premissa é coerente com Tarantino. Em Death Proof vemos um grupo de mulheres a vingarem o seu sexo e a recusar o papel de vitima da mulher na história do Cinema. Em Kill Bill, a noiva parte pelo mundo com uma lista de nomes e sede de justiça. Em Inglorious basterds, os Judeus viram o bico ao prego e mudam o curso história. Those were great movies...

Era isso que se esperava de Django: um escravo faminto de vingança, uma força da natureza que não se conforma com a ordem social que o coloca no fundo da cadeia alimentar. Mas Django não é nada disso: é um escravo, como outro qualquer, um negro que se habituou a pôr-se no seu lugar e piar fininho quando o tentam expulsar de um bar. É fácil ser um herói quando há alguém a estrategar por nós, a lutar as batalhas por nós, a bater o pé por nós. O herói desta história é o Dr. Shultz. O europeu que vem salvar o dia, que liberta o escravo, que pensa por ele, que o veste e que lhe dá um cavalo, que faz da sua missão ajudá-lo a sobreviver, e que se sacrifica finalmente pela liberdade de outrem. É por Shultz que torcemos, é o seu charme, carisma e perspicácia (qualidades que acompanham Christopher Waltz por onde quer que ele vá) que marcam o filme. O que nos conduz ao:

Problema 2# -  3º Acto para quê?

No final do 2º acto assistimos à grande cena climática do filme. O que é um erro crasso, porque nisto dos filmes e das histórias, é geralmente considerada boa ideia deixar a cena mais entusiasmante para meados do 3º acto. Mas não. Ainda com meia hora de filme pela frente temos uma cena de tiroteio épica e encharcada de sangue em que morre o vilão (o Monsieur Candie do sempre hestriónico mas eficaz DiCaprio) e morre o herói (já tivemos esta conversa, Shultz e não Django).

A partir daqui, eu estava pronta para sair da sala. Podia ter ficado assim e não estava mal de todo. Mas não! Não só o filme continua como ainda temos de levar com uma long shot do escroto do Jamie Foxx logo de seguida. Eu gostava muito de ter vivido a minha vida sem essa imagem.

A grande cena climática do filme acabou por ser um Django a libertar-se usando o tipo de manha que aprendeu com o Shultz (e que funciona com australianos, cuidado, porque um americano nunca cairia numa esparrela daquelas) e a voltar à mansão, onde assassina 4 ou cinco pessoas desarmadas. Quite a hero...

Problema 3# - O escravo-sócio

No meio desta história toda houve uma personagem que era verdadeiramente interessante e relevante se o objetivo fosse discutir a escravatura a fundo: a figura do escravo fiel a seu dono, que concorda com a inferioridade da raça negra, que compactua com tudo aquilo, que se escandaliza com o negro que se atreve a montar um cavalo, e que trai os da sua cor à primeira hipótese. Quão interessante seria refletir acerca disto: como o poder pequenino de ser o chefe dos escravos é suficiente para corromper o coração de um homem, como as causas são muitas vezes sabotadas por quem está dentro delas por este ou aquele interesse. Até podia revelar mais sobre o Monsieur Candy, aparentemente um monstro racista, mas que têm num negro o seu melhor amigo, a sua mão direita.

Mas a oportunidade foi perdida, e a personagem de Samuel Jackson acaba por ser pouco mais do que uma caricatura, mais cómico do que revoltante, e com um final inglório: um velhinho desarmado, assassinado por um igual, sem ter tudo sequer a hipótese de contar a sua historia. Django, Django, mas que herói...

Problema 4# - Hip hop? What the Cluster-fuck?

Não tem desculpa possível. Desculpem, nem consigo pensar nisso sem começar a sentir uma hemorragiazinha cerebral... Tarantino, o homem das bandas sonoras, o tipo que sabia exatamente que musicas ir buscar ao baú, o homem que nos permitiu descobrir pérolas como “Down in Mexico”, “Woo, woo”, “Girl, you’ll be a woman soon”, “Bang Bang”, e são as primeiras que me vêm à cabeça... como é que isto aconteceu? Django, o escravo-gangster?  Eu já não estava a gostar da personagem, eu já não gostava do Jamie Foxx, com Tupac a tocar de fundo, esquece. Ah, o que me leva ao ultimo problema:

Problema 5# - Jamie Foxx Suxx

Isto talvez seja só de mim - mas não acho que seja. O Jamie Foxx é daqueles atores que não me suscitam a mais pequena empatia. Não me lembro de onde li isto, mas recordo-me de algures, alguém ter dito que o Jamie Foxx é tão unlikable que quando ele fez de Ray Charles, o espetador começa a torcer pela cegueira. Eu assino por baixo. Li também que originalmente o Tarantino tinha considerado o Will Smith para fazer de Django. Não sei se o Prince of Bel Air seria a melhor opção, mas pior do que o Jamie Foxx não podia ser.

11.1.13

Apologia da pepa

Eu sinto que alguém têm de fazer a apologia da Pepa, e ninguém se chega a frente, por isso vou eu tratar disso.

Não que eu ache que a Pepa não se possa defender sozinha, ou precise de alguém para fazê-lo por ela. A Pêpa não é uma dessas coquetes enfezadas que permitem que reduzam o nome Filipa a diminutivos condescendentes como Pipa, Pipinha, ou Pimpinha. Também não é tão conformada e mundana ao ponto de aceitar o nome que os pais lhe deram tal e qual como é. Faltou-lhe talvez o arrojo para enfrentar o mundo com um nome como Fifi.

A Pêpa, como podemos ver no infame reclame da Samsung, é uma self made woman. Um bocado irritante? É. Têm péssima dicção? De facto. Um bocado afetada? Um bocado é favor. Tem desejos desadequados à atual conjuntura económica e, como tal, ofensivos para o comum mortal? É possível. É difícil ver o dito vídeo na sua totalidade sem ficar com vontade de lhe aviar uma bolacha? Tarefa hercúlea, sem dúvida.

Mas tenho três problemas com esta consternação que me estão a dar urticária, ainda por cima nas costas onde eu não consigo coçar, e por isso vou desabafar os meus sentimentos aqui antes que isto se espalhe.

Antes de mais, o ponto essencial a ver aqui é este: este vídeo faz parte de uma série de vídeos idealizados pelos masterminds do departamento criativo da Samsung como parte de uma campanha de fim de ano. Foram entrevistados 5 bloggers de moda, que responderam à questão “qual é o seu desejo para 2013?” enquanto eram filmados a brincar com gadgets da marca. A ideia a reforçar aqui é: Bloggers de moda. Profissionais cujo trabalho é analisar, investigar, admirar e criticar moda. Perguntam qual é o seu sonho e admiram-se que queira uma mala de marca? Havia de querer o quê? Um creme para as hemorroidas?

Existe a critica de que o discurso da Pêpinha, desculpe, da Pêpa Xavier, é oco, fútil e revelador de um certo deficit de Q.I. Desde quando é que este país que eleva a Casa dos Segredos a programa rei de audiências fica escandalizado por ver gente estúpida? Desculpem, claro que não é um problema nacional. Lembro-me de ver a Paris Hilton dizer que para suceder no showbizness e no mundo dos negócios ela faz-se de mais parva do que é, faz o papel de tontinha e loira burra, e porquê? Porque é o que esperam dela. Porque fica mais giro ser tontinha e borderline atrasada mental, e mulheres inteligentes e articuladas são esquisitas, provavelmente esteréis, provavelmente lésbicas. E por isso mulheres que podiam ser espertas, e se calhar até são, acham que é mais glamoroso falar como se tivessem tido um AVC que lhes paralisou a boca. A culpa é vossa.

E com isto chegando ao ultimo ponto, e aquele que me irrita particularmente. Se a Pepa, ou qualquer outra mulher, tiver o seu emprego, trabalhar, receber um salário, pagar os seus impostos e no final disso tudo quiser comprar ‘ma mala Channel supé chique e clássica... it’s none of your fucking business!

Seria mais virtuoso se ela dissesse que queria muito ser mãe? (parece-se a mim que apesar de tudo a mala Channel sai mais barata que sustentar uma criança). Seria economicamente mais responsável dizer que o seu maior desejo era ficar enquadrada no escalão de IRS mais alto para poder contribuir com metade dos seus ganhos para a salvação do país? Seria mais aceitável para a sociedade que a Pepa dissesse que é uma pessoa muito simples e humilde, não quer bens materiais, o seu único desejo é que um homem faça dela uma mulher séria para poder ficar em casa a apanhar porrada e ter filhos, thank you very much?

Quem somos nós para validar ou criticar as ambições ou desejos de outra pessoa? Quem somos nós para levarmos a cabo uma campanha de bullying online, contra uma amante de moda que teve o descaramento de querer ter uma mala de marca? E vão lá ver bem se metade desses posts enfurecidos não foram partilhados através de Iphones, Ipads e quiça... Samsungs! Estamos em crise! Não vos chegava um Huawei ou um Motorola?

E deixo esta ideia: caso a Samsung tivesse feito um vídeo onde perguntavam a um jovem mecânico qual era o seu sonho, e este respondesse “Ter um Porsche!”, seria o rapaz sujeito ao mesmo nível de ridicularização?

Deixem a mulher sonhar com o que ela quiser, deixem as mulheres sonhar com o que elas quiserem.
Com uma amizade supé grande, sei lá,
Fifi
--

15.3.11

Biutiful (or como fui mais uma vez enganada a ver um filme do Iñarritu)

Existem dois tipos de espectadores: os que adoram Iñarritu e os que desprezam do fundo do coração. Eu pertenço ao segundo grupo e, como tal, até assumo que não sou a critica mais imparcial deste filme. Se fazem parte do primeiro grupo de espectadores, aviso já, vão ficar muito chateados com o que eu vou dizer. Prossigam a leitura por vossa conta e risco.

Em Iñarritu não vejo mais do que um abuso desavergonhado de truques narrativos e cinematográficos que levam o espectador mais incauto a sentir-se comovido e afectado por algo real e na verdade não foi mais do que manipulado. Acontecia em Babel, acontece em Biutiful: um bombardeamento de angústias, desesperos e injustiças sociais esfregadas na cara do espectador da forma mais gráfica e escatológica possível. Quer fazer-nos sentir alguma coisa, qualquer coisa, reagir. Há formas de fazê-lo sem causar náusea, mas talvez esta seja a forma mais fácil. É este o truque de realizador de Iñarritu: o nojo.

Nos primeiros 10 minutos de filme somos sujeitos às seguintes torturas: uma coruja morta, um funeral de três criancinhas; o fantasma de uma criancinha, auto extracção de sangue, urina ensaguentada e a sugestão desse bicho papão da vida moderna: cancro. Ainda o filme não bem começou e já causou no espectador um tal mal-estar e angústia que este fica condicionado na sua perspectiva dos acontecimentos que se desenrolam (dolorosamente) ao longo do restante do filme.

Mas, independentemente do nojo ou deslumbramento que esta estética possa causar no espectador, esse não é sequer o principal problema de Biutiful. A preocupação de um filmmaker deve ser, antes de tudo o resto, saber: "O que é que eu quero contar?". Mas Iñarritu parece sofrer de um short attention span ou de um caso terminal de ADHD que torna os seus filmes desconcentrados e redundantes. Ainda disfarçava enquanto trabalhava com Guillermo Arriaga e dividia as milhentas historias que queria contar por narrativas em mosaico, mas em Biutiful (supostamente, uma narrativa linear) vê-se incapaz de se focar numa personagem, problema ou história.

Na verdade há tanta tralha enfiada à força num só filme que facilmente se conseguem distinguir os vários filmes que podiam ter saído daqui se o homem se conseguisse concentrar durante 5 minutos:
  • Um médium ajuda lutuosos a lidar com a perda de entes queridos mas vê-se incapaz de lidar com a sua morte eminente.
  • Uma família é desfeita pela doença bipolar da mãe que negligencia e agride filhos e trai o marido com o seu irmão.
  • Um casal de Senegaleses ilegais em Barcelona que são separados pela extradição do marido que, explorado pelo sistema, se viu envolvido num negócio de tráfico de droga e de artigos contrafeitos.
  • Um casal de homossexuais chineses gerem juntos uma operação de exploração de trabalhadores seus conterrâneos, e que culmina com um assassinato à la Castro/Seabra e um quilo de chineses gaseados numa cave. 
  • Dois irmãos têm de levantar as ossadas do pai que nunca conheceram e embarcam numa jornada de auto conhecimento e descoberta do seu passado.
  • Um pai solteiro de duas crianças descobre que tem cancro e envolve-se numa série de negócios ilegais para ganhar dinheiro para que os seus filhos não fiquem sem nada após a sua morte.
Sem falar ainda nas cenas absolutamente dispensáveis que, inacreditavelmente, sobreviveram à sala de montagem, nomeadamente a cena de discoteca (fundamentalmente um remake da cena da discoteca de Babel) e a repetição de tudo o que vimos no início do filme quando o filme acaba. Parece que experimentaram pôr a mesma cena no fim e no princípio, para ver onde ficava melhor. E acabou por ficar nos dois.
Mais haveria... não vou bater mais no ceguinho.. ou vá, no mexicano. Existe claro alguma coerência no que diz respeito às preocupações de Iñarritu: injustiças sociais, exploração, globalização, etc. São preocupações perfeitamente legitimas, mas realmente lamentável é a forma grotesca e moralizante como as aborda, a leveza com que as abandona por outra coisa qualquer, os jogos de causa-consequência, karma e castigo divino e o asco que envolve tudo isto. No fundo, acho que se pode tirar o realizador do México, mas não se tira o México do realizador.

Dito isto, Javier Bardem podia bem ter recebido aquele Óscar, nem que fosse como compensação pela dor de costas que deve ter sido acartar com este pastel completamente sozinho, com uma dignidade merecedora de aplauso.

23.8.10

Pré-Inception

Por alguma razão a critica do Inception está a ser dolorosa de escrever e ando a protelar há um mês. Se calhar antes do texto propriamente dito, vou pedir ao Cillian Murphy para me ajudar a representar o meu sentimento geral pelo filme:



Obrigado Cillian, (continuo a gostar mais de te ver vestido de mulher).

12.7.10

Alive and kickin'

Não me vou alongar muito acerca do Alive para não ficar muito alterada, ficam no entanto estas ideias:

- A organização falhou redondamente: uma demora inaceitável para entrar no recinto no primeiro dia devido a um processo lento e mal pensado de troca dos passes de 3 dias por pulseiras que resultou na revolta dos pobres pagantes que, tendo chegado a horas, perderam vários concertos por estarem retidos na fila para entrar.  A organização espacial do festival que foi funcional em edições passadas, mas provou ser impraticável num ano de lotação esgotada. Demasiadas filas para comer, demasiada gente a circular, demasiado tempo para ir de um palco para outro. A saída do recinto após o concerto de Pearl Jam foi angustiante, com 45 mil pessoas a seguirem todas na mesma direcção, uma vez que saída do recinto, só há uma. Aqui a vossa amiga teve um divertido ataque de claustrofobia no meio da multidão e teve de se refugiar à beira de um balcão de cachorros quentes. Very nice.

- Porque andar a espreitar de um palco para outro era complicado, optei por escolher um palco e ficar por ali, e portanto perdi muitos concertos. Ou melhor, só vi mesmo aquilo que me interessava ver. Fui também forçada a tomar algumas escolhas em casos de concertos em simultâneo. Sobre os que ficaram de fora não me poderei prenunciar. Tenho pena de ter perdido Noiserv e Legendary Tiger Man e suas muchachas. Não tenho pena de ter perdido La Roux nem Biffy Clyro. Fiz até questão de estar bem longe.

- Nunca fui particularmente fã de Faith no More mas rendo-me a Mike Patton e parece-me difícil que alguém discorde de que este foi o melhor concerto do festival. Patton dá espectáculo e entrega-se, é divertido e inesperado. Muito acima das minhas expectativas e muito acima da média.

- Gossip foi uma experiência religiosa. A actuação foi no palco secundário a pedido da banda e a multidão encheu a tenda SuperBock, até haver pessoas literalmente penduradas ao tecto. Beth Ditto é toda ela amor. O final do concerto com o combo Heavy Cross + I will always love you foi de uma entrega absoluta e um dos momentos mais marcantes do festival. 

- Eu não vi nem ouvi Pearl Jam. Isto porque os fãs de Pearl Jam não me deixaram. A multidão apinhou-se para mostrar a Eddie Vedder que andou a treinar e sabe as letras todas de cor. Eu passei as quase duas horas de concerto a ouvir muita gente a cantar e a saltar à minha volta, mas Pearl Jam, não, não os vi. Os fãs incondicionais vão sempre dizer que foi espectacular e a melhor coisa desde o pão às fatias. A mim pareceu-me um concerto bom, eficaz, bem calculado. Mas não me parece que seja coisa para mudar a vida de ninguém.

Eu aprovo disto!
- Como eu previ, houve cerca de 10 pessoas realmente entusiasmadas com o concerto de Gomez. À minha frente estavam umas pessoas sentadas a jogar às cartas durante o concerto. Alguém gritou "Get Myself Arrested" umas quantas vezes, mas não pegou. A mim soube-me a pouco, e resta-me esperar que cá venham em nome próprio.





- Isto de festivais urbanos cansa como o raio. Festival a sério é pegar na tenda e na trouxa e ir para longe de Lisboa. É claro que para o ano esqueço-me e vou ao Alive outra vez, mas por agora estou muito exaurida. 

Curtam Gomez e não se esqueçam de comprar bilhete para Arcade Fire.