"When critics disagree, the artist is in accord with himself"

Oscar Wilde

17.6.10

Hollywood, uma ideia

Há uns anos atrás tive uma ideia genial para um filme. Infelizmente não me tornei cineasta e não me parece que tal vá acontecer nos tempos próximos. Por isso decidi partilhar a minha ideia com o mundo e esperar que chegue aos ouvidos de alguém com poder executivo.

Este é o meu pitch:

Um filme sobre a vida de Jean-Paul Sartre, livremente baseado na obra A Naúsea, e no papel principal....

wait for it.....

BUSCEMI!

11.6.10

Music Video Awards – The TSP Edition - 2ª Parte

E os vencedores:

Medalha de bronze

Spike Jonze
O americano Spike Jonze é mais reconhecido pelo seu trabalho como realizador pelas suas duas colaborações com o argumentista Charlie Kaufman Being John Malkovich e Adaptation e mais recentemente pela sua adaptação ao cinema do conto infantil Where the Wild Things are. No entanto, Jonze foi o homem por trás da câmara em alguns dos vídeos mais memoráveis da década de 90, caracteristicos pela sua simplicidade e originalidade. Associado sempre ao universo indie americano, Jonze fez vídeos para The Breeders, Weezer, R.E.M., Sonic Youth para nomear alguns e conta também com duas colaborações com a “anãzinha islandesa” em It’s so Quiet e It’s in our hands.

Mas Jonze ganha a sua posição no pódio por um vídeo apenas, que será, provavelmente, um dos mais geniais videos da História. Sim, da História. É ele o absolutamente inesquecivel Praise you de Fatboy Slim. O vídeo filmado com qualidade de câmara de telemóvel mostra uma muito mal vestida trupe de dançarinos, que actua em frente a um cinema para os transeuntes com uma coreografia tão tosca como enternecedora. Parece amador, mas não é. Desaprender tudo o que sabemos e regressar à simplicidade total é um feito mais admirável do que pode parecer à primeira vista. Quem viu nunca mais se esqueceu e não consegue deixar de esboçar um sorriso ao rever.
Não tão genial mas igualmente bom foi o vídeo de Weapon of Choice, também para Fatboy Slim. Porque se é preciso alguém para dançar, que seja o Christopher Walken.

Medalha de Ouro

Jonas Akerlund

Se um vídeo é censurado/banido/remetido para a programação de madrugada da MTV é porque, provavelmente, terá dedo deste senhor. O realizador sueco que no currículo conta apenas com uma longa metragem (Spun, 2002) é o homem a quem se liga quando se precisa de um vídeo escandaloso, inesquecivel e controverso. Um interminável rol de títulos poderiam ser referidos para comprovar este traço: Try try try dos Smashing Pumpkins, My favorite game dos Cardigans, Turn the page dos Metallica e o tarantinesco Telephone de Gaga e Beyonce são todos bons exemplos. Mas Akerlund terá sempre de competir consigo mesmo, e dificilmente superará o momento de genialidade ímpar na criação do vídeo de Smack my bitch up dos Prodigy. O problema de Akerlund, a meu ver, é o perigo de fazer vídeos que se sobrepõem à música (por vezes sendo muito extensos, com cortes na musica e dialogo adicional)tornando-a secundária. No fim de contas, um vídeo é um veiculo de promoção. Para além disso ele é amigo da Madonna, e isso não se faz.

Platina

Michel Gondry

Espero sinceramente que o meu julgamento não esteja a ser turvado pelos meus gostos pessoais, porque julgo que não há, verdadeiramente, ninguém que supere Gondry na criação de peças que conseguem o equilíbrio perfeito entre a identidade do criador e a identidade do artista, resultando em experiências honestas e emotivas que ao invés de deixar a música para segundo plano potenciam segundas leituras que a enriquecem.
Lembro-me quando me apaixonei por Gondry sem saber quem era Gondry. Corria o ano 1993 de nosso senhor Jesu Cristo, tinha eu uns míseros 7 anos, quando vi pela primeira vez o vídeo de Bjork (mas esta senhora está em todo o lado?) para Human Behavior, e o meu espirito infantil foi conquistado por aquele universo de florestas e conquistas da lua, ursos de peluche que engolem criancinhas (para mim, a Bjork parecia ter a minha idade) e traças de papel que voavam sobre a sopa.
Desde então Gondry nunca me falhou. Os seus universos são surreais e oniricos sem nunca perderem uma qualidade absolutamente táctil e humana. Gondry sabe capturar as aleatoriedades do pensamento inconsciente importando as texturas da realidade que equilibram a estranheza e a verosimilhança.

Os vídeos de referência são demais para nomear na totalidade, mas tomo a liberdade de destacar alguns. Around the World dos Daft Punk, Music sounds better with you dos Stardust, Like a Rolling Stone dos Rolling Stones, Knifes out dos Radiohead e Let forever be dos Chemical Brothers foram dirigidos pelo francês, e os White Stripes renderam-se e contam com três colaborações com Gondry, entre eles Fell in love with a girl, mais conhecido como “aquele vídeo do lego”.

Mas será talvez em 1997 que Gondry teve o seu maior feito, conseguindo com um vídeo dar uma nova vida a uma banda cuja carreira e reputação estavam à beira do precipício. Everlong fez com que os Foo Fighters deixassem de ser, aos olhos do público, os restos mortais dos Nirvana e passassem a ser uma banda com identidade própria, bons rapazes com sentido de humor, alguma tendência para o transvestismo e o porreirismo tipico de quem não tem medo de fazer más figuras. A música era boa, mas Gondry ajudou.
No cinema Gondry foi autor de alguns objectos de culto como Eternal Sunshine of the Spotless Mind e The Science of Dreams que são igualmente representativos do que é o imaginário de surrealismos infantis agridoces de Gondry. Be kind/Rewind é mau e não há desculpas, mas a ideia era boa e eu vou encontrar as forças no meu coração para perdoa-lo. Com um currículo assim, quem se recusará a faze-lo?


Eu assumo que muitos nomes ficaram de fora e gostava de ouvir mais opiniões, mas aviso já que escusam de me vir falar do Thriller do Michael jackson. O vídeo é bom e revolucionário, sim. Mas é também a unica coisa relevante da carreira de John Landis, um realizador dos estudios Disney que entre outras parvoices realizou a versão televisiva de Querida, encolhi os miudos. Tá bom?

10.6.10

Music Video Awards - The TSP Edition - 1ª parte-

        Para quem gosta de música e de cinema em igual medida um bom videoclip pode ser motivo de real regozijo, em formato “two ein one”. Pelo meio dos incontáveis vídeos de performance e de shameless self promotion surgem por vezes casos que funcionam como verdadeiras curtas metragens musicais que por uma razão ou por outra ficam para sempre gravadas no imaginário de melómanos e de cinéfilos.

        Como, salvo as excepções, os vídeos não têm um genérico que identifique o realizador ficam por vezes anónimos os génios por trás da câmara de muitos dos vídeos mais memoráveis da História (atribuir o vídeo às bandas é injusto, na maior parte das vezes não têm nada a ver com o assunto).
Mesmo sabendo que a injustiça é inevitável e que muitos nomes merecedores de menção ficarão de fora, tomei a liberdade de compilar, considerar e premiar alguns dos responsáveis por alguns dos títulos de maior destaque no espólio videomusical dos últimos anos.

Menções Honrosas –

Jonathan Dayton e Valerie Faris

                O casal de realizadores oscarizados pelo seu Little Miss Sunshine é responsável por alguns dos vídeos mais interessantes dos anos 90. Tonight, Tonight e 1979 dos Smashing Pumpkins, Freak on a Leash dos Korn, um chorrilho de videos dos Red Hot Chilly Peppers, entre eles  Aeroplane e Californication são alguns dos trabalhos mais conhecidos do casal.  Soundgarden, Ramones, Oasis, Extreme, R.E.M... Os anos 90 estiveram recheados de vídeos de Dayton/Faris. Mais recentemente o duo dinâmico realizou um vídeo para Britney Spears, mas enfim, todos temos contas para pagar...

Chris Cunningham

O corpo de trabalho de Cunningham não é muito extenso, mas dois dos seus vídeos são dos mais marcantes dos últimos anos: o arrepiante All is full of love da Bjork e Windowlicker de Aphex Twin (que confesso nunca ter visto na integra por me dar uma indisposição desgraçada).
Cunningham assinou também Flex, uma peça de video-art acompanhada de musica de Aphex Twin. Não querendo entrar por questões essencialistas, é curiosa a linha que distingue um videoclip de video-art musical. Um passa na MTV outro passa em galerias de arte? Bom, hoje em dia, tudo passa no YouTube.

Anton Corbijn

A minha simpatia pelo trabalho deste notório fotografo causa-me algum pudor no momento de falar do seu trabalho em videoclips.
Quando pensamos em bandas boas com um longo historial de vídeos cretinos pensamos em Depeche Mode. A culpa? Do Corbjin. Enjoy the Silence? Sim, foi ele.
Realizou também Heart Shaped Box dos Nirvana, que não é propriamente mau, mas seria mesmo adequada tanta bizarria avant garde aos pais do género musical menos teatral das ultimas décadas?

Hype Williams/Joseph Kahn

Não, não estão associados nem são um casal. Ponho-os no mesmo saco por serem os reis dos vídeos de pop e hip-hop. Britneys, Aguileras, gangster rap e hip hop genérico é com eles. Kahn é também culpado (porque a expressão é esta) por muitos vídeos dos Muse, outros pobres desgraçados cujos vídeos nunca estão à altura da música.


Os grandes vencedores no próximo post.

1.6.10

Carta aberta a Lady Gaga

Querida Lady,

Gostava que soubesses como a minha opinião acerca de ti mudou desde a primeira vez que tomei conhecimento da tua existência até ao momento presente. Lembro-me da primeira vez que vi o vídeo de Poker Face, que visto de esguelha pareceu-me ser a Christina Aguilera mas depois percebi que era outra pessoa, uma loira não tão bonita mas mais.. digamos... interessante. Confesso que não liguei absolutamente nenhuma. Ignorei-te, Gaga, desculpa-me. Tomei-te por uma bimba qualquer do euro-electro-trash em vez de olhar com atenção. Depois comecei a ler o teu nome em todo lado, normalmente numa referência ao facto de estares sempre de cuecas. Também não dei grande importância, uma vez que muitas das tuas colegas celebridades nem roupa interior costumam ter.

Mas um dia vi o vídeo de Bad Romance e não te pude ignorar mais. Não era uma simplória qualquer que ali estava, num vídeo que parecia um filho bastardo de Alexander McQueen e Mathew Barney, uma criatura que mais do que se abanar em trajes menores jogava com valores estéticos e representativos, brincava com simbologias e linguagens. Uma Kate Bush da dance music. Quem era afinal esta figura avant-gard com Rainer Maria Rilke tatuado no braço a rosnar “rah rah ah ah ah roma olalah gaga roma rah” numa afirmação desavergonhada de si mesma como personagem ficcional e absurda, como afinal, todas as estrelas são (ou deveriam ser).
Digo deveriam porque, como tu sabes Gaga, o estrelato já não é o que foi em tempos. Neste mundo de Facebooks e Twitters que nos permitem saber cada passo e pensamento dos que conhecemos e dos que não conhecemos, as celebridades abrem as portas das suas casas com uma desconcertante naturalidade. Vemos as suas casas no Cribs. Sabemos dos seus amores, divórcios, corações partidos, traições, dietas e doenças por entrevistas cândidas em talk shows, principalmente no derradeiro confessionário das celebridades, o programa da Oprah Winfrey. Vemos sessões fotográficas sem maquilhagem nem photoshop. Sextapes são “acidentalmente” divulgadas. Vemos reality shows onde podemos acompanhar as suas vidas e perceber, finalmente, que as estrelas são seres humanos, como nós.
Mas não são, como tu, Lady Gaga, sabes muito bem. Foi-te dito que o Prince não vai às compras de fato de treino e percebeste. Uma estrela é sempre uma estrela. Não se liga e desliga quando se quer, não se oscila entre a humanidade corpórea e a divindade etérea do estrelato. A Stefanie não sei das quantas não aparece jamais, é uma coincidência, um corpo que tu, Lady Gaga, ocupaste para levar a cabo a tua missão.  Como mais ninguém da tua geração abraçaste o conceito de artista, e mesmo com a parca roupa que usas, não existe qualquer vestígio de sobre-exposição em ti. Não sei quem és, conheço apenas o que escolhes mostrar: uma imagem icónica e memorável, um animal de extremos, uma criatura mítica de obstinação  e vontade inquebráveis.

Muitos te têm comparado a Madonna, mas sabemos bem que não é uma comparação válida. Lady Gaga nunca poderia envelhecer e fraquejar, nunca se poderia acabar como uma realeza musical menopausica de dedos cadavéricos cravados num trono que ninguém quer roubar neste mundo musical democrático. Atrevo-me a dizer, um D. Duarte da Pop. Não. Tu não serás Madonna.

Porque tu és Monroe, Elvis, Bogart e Dean. Sabes que vais ter de morrer jovem e trágica, indecifrável e mítica, eternamente bela e grotescamente sexual. Asfixia auto-erótica talvez? Fica a sugestão.

No fundo o que eu te quero dizer é isto: aprendi a respeitar-te e admirar-te, mas continuo a não conseguir gostar da música que fazes. Tentei ouvir o teu albúm, a sério que tentei, mas é mau demais.

Lady Gaga, um apelo: vêm para o rock. Precisamos de alguém como tu por aqui.