Eu tenho uma confissão a fazer: eu adoro cinema de animação.
Gosto de animação tradicional e computorizada, de musicais, comédias, melodramas e romances, gosto da Disney, da Pixar e da Dreamworks, gosto de animação americana, francesa, japonesa e até checa (se for apresentada pelo Vasco Granja), gosto de Merry Melodies, de Duck Tales e de Looney Toons. Tive a sorte de pertencer a uma das últimas gerações que se encantou com princesas que cantam com pássaros pela manhã, que se comoveu com o Fievel e a sua irmã a cantarem debaixo da lua e para quem o melhor Robin Hood do cinema é a raposa charmosa da Disney. Gosto de animais que cantam e falam, gosto de magia e sonho e romance e tudo mais que venha.
Isso aí é uma brumbuzumba, viu? |
Mas há uma coisa de que não gosto, e que me perdoem os profissionais da industria: não gosto de animações dobradas em Português. Não digo que não se façam, até porque eu também já fui criança e analfabeta e vi-me obrigada a ver muito desenho animado dobrado em brasileiro (era o que havia, não sei se se lembram).
Mas hoje em dia é preciso assumir que o dogma que ditava que a bonecada era só para criancinhas já era, e que nós, adultos, também gostamos de ir ao cinema e ver uma animação ou outra, e, já agora, ouvir as vozes dos actores de renome que vimos referenciados nos cartazes. Assumo que hoje em dia já se fazem trabalhos muito respeitáveis de tradução e dobragem em Portugal, mas era simpático ter margem para escolha.
Inúmeras animações têm estreado em Portugal APENAS na versão dobrada (Cloudy with a Chance of Meatballs, por exemplo) e em muitos casos, o espectador é obrigado a escolher: ver a V.P. em 3D ou ver a V.O. em duas dimensões (assim de repente lembro-me do Monsters vs Aliens), o que me faz sentir que estou a ser forçada a ver a V.P. para pagar o trabalho da equipa de dobragem. Como não gosto de ser forçada a coisa nenhuma, acabo por não ver nem um nem outro, guardar o meu dinheiro, e recorrer à pirataria (no caso disto estar a ser lido por algum agente da autoridade, estou a mentir, claro).Vai umas agulhas nos olhos? |
Para além da questão da dobragem, existe ainda uma óbvia negligência no que diz respeito à catalogação dos filmes de animação. O Japão já nos ensinou a todos que lá porque é desenho animado não quer dizer que seja para crianças, e portanto, convêm dar uma vista de olhos ao filme antes de decidir que público é que o vai ver. O caso mais surpreendente dos últimos tempos foi o Coraline de Henry Sellick, a partir do conto de Neil Gaiman. Para quem não conhece, é a história de uma mocinha que descobre um negro universo paralelo onde uma mãe alternativa e aterrorizadora tenta rapta-la e cozer-lhe botões nos olhos. Mas é uma animação, portanto não só foi dobrada, como teve direito a classificação M4. Claro, porque se há coisa que a pequenada gosta é de filmes sobre vistas vazadas.
Mas será que não há ninguém que veja os filmes antes? Eu faço desde já uma candidatura espontânea para ter esse emprego! E prometo que se depender de mim, não haverá criancinhas com perturbações de sono crónicas por verem desenhos animados sobre agulhas nos olhos.
That's all, folks!