"When critics disagree, the artist is in accord with himself"

Oscar Wilde

24.4.13

Do fundo do baú

Escrito numa encarnação passada. Para recordar.



 

Se hoje fosse uma noite de lua cheia eu dançaria na rua ao som de fanfarras escandinavas na companhia de osgas e de bobos de corte sifílicos até os gatos chorarem bílis... mas enquanto os sonos das algas marinhas forem perseguidos por pesadelos fálicos, as chuvas lilases de Primavera vão continuar a matar os charutos cubanos com Escarlatina.

Sendo verdade que poucos males há no mundo que não possam ser resolvidos por uma escadaria repleta de crianças em gabardines a comer bolos de arroz, a transpiração dos caminhos de ferro enferrujará sempre as guelras dos corações das mulheres ruivas.

Proponho então que todas as pêgas literadas apresentem o seu abaixo assinado para que cessem por fim os toques de telefone entre as 3 da tarde e as 7 da noite das terças feiras dos anos bissextos. E aí será possivel; mas apenas se todos os sapatos forem de cores diferentes e se os guaxinis conseguirem salvar os coros femininos de Gospel da forca.

A muitos parte o coração ver as febres das serpentes virgens, que lhes provoca aquela fome de amor que as faz roer incessantemente as unhas. Ora, para isso, que lhes pintem os olhos de roxo, porque não há nada mais triste no mundo do que uma chávena de chá frio.

Quando espreito pelos buracos dos ratos nas paredes dos barcos á vela, consigo ver de relance a cura para o cancro do colo do útero e os anões de cor albinos a organizarem as suas quermeses (e são as melhores! nada supera comer algodão doce enquanto se queima os pedófilos e as bruxas húngaras na fogueira).

Certo dia, á beira de um rio de lixívia, o T.S. Elliott escreveu-me um haiku de amor, e morreu de seguida, com um violento ataque de taquicardia sarcástica. Beijei-lhe o peito do pé e segui o meu caminho, deixando o meu eterno rasto de nenúfares e matéria estelar. Como em Júpiter cheira sempre a canela, parei de cantar e deixei os pirilampos vespertinos erotizarem-me as pontas dos dedos.

As minhas têmporas engravidaram de fantasias e esperei pelo parto num leito de bolo-rei e tabaco com sabor a mirtilos. Tive, passado 5 semanas, as minhas 4 filhas: a Raposa, a Colher, a Disenteria, e a Sobrancelha de Dali, que embalei no meu colo com canções revolucionárias em tom de D#m7. Todas elas cheiravam a hortelã-pimenta tépida...

Vi um coelho a correr apressado para dentro de uma árvore, mas não achei que fizesse sentido, por isso ignorei.

 
22 de Novembro de 2006 @ Faculdade de Letras

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